quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

A sonhar

A quinta noite consecutiva que sonhei contigo.

Sonhei que nos tinhamos reencontrado.
Que me tinhas procurado. Que me tinhas tocado.. que eu te tinha tocado... Que nos tinhamos beijado, aquele beijo que todos estes meses senti falta. Aquele beijo que se renovou estas cinco noites, e a cada vez o primeiro! Aquele beijo que acordou repetidamente o que adormeceu quando tu partiste.

E aí acordei... mas tu não partiste de mim.

Sorri, num sorriso magoado, com direito a lágrimas.
Cada lágrima, uma tentativa de expurgar lembranças. E a cada lembrança uma tentativa de construção duma melhor mentira. Dou-lhe de nome esperança.
E é ela, a esperança, que me engana e me faz acreditar, acordado ou a dormir, que estás comigo. Que não estás longe... Mas estás!

Tão longe que as minhas palavras já não te conseguem alcançar. Perdem-se no silêncio do caminho. Caminho que deixou de ser nosso, caminho esse que se perdeu: já não sei como chegar a ti.

Fechei os olhos de novo.
Desprendeu-se mais uma lágrima. Senti-a correr pela pele... enquanto me beijavas outra vez.


"Estás a ver, ali adiante, aqueles campos de trigo? Eu não como pão e, por isso, o trigo não me serve de nada. Os campos de trigo não me fazem lembrar de nada. E é uma triste coisa! Mas os teus cabelos são da cor do ouro. Então, quando eu estiver presa a ti, vai ser maravilhoso! Como o trigo é dourado, há-de fazer-me lembrar de ti. E hei-de gostar do barulho do vento a bater no trigo...

(...)

Foi assim que o principezinho prendeu a raposa. E quando chegou a hora da despedida:
- Ai! - exclamou a raposa - ai que me vou pôr a chorar...
- A culpa é tua - disse o principezinho.- Eu bem não queria que te acontecesse mal nenhum, mas tu quiseste que eu te prendesse a mim...
- Pois quis - disse a raposa.
- Mas agora vais-te pôr a chorar! - disse o principezinho.
- Pois vou - disse a raposa.
- Então não ganhaste nada com isso!
- Ai isso é que ganhei! - disse a raposa. - Por causa da cor do trigo..."

Saint-Exupéry (O principezinho)

2 comentários:

Unknown disse...

Há distâncias e distâncias.
Há distâncias que nos aproximam, ao nos apercebermos o quanto nos faz falta algo, mas há distâncias que nos afastam, ao entendermos que ela é insuperável.

Nada está perdido***
(este custou a escrever, tu sabes porquê :P)

el.sa disse...

Simples e tocante como um beijo!
Adoro que ponhas excertos do Principezinho, é um complemento fantástico!

Beijinhos tocados***